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sábado, 5 de janeiro de 2008

O comércio de escravos um novo negócio

  • Agosto,08-A partilha de escravos na vila de Lagos
(antigo mercado de escravos em Lagos)

As viagens portugueses à África Ocidental sofreram uma pequena pausa (ou abrandamento), no último quartel dos anos trinta, mas foram retomadas no princípio da década de quarenta, com resultados que pareciam ter uma importância económica significativa, sobretudo a captura de escravos, ao ponto de motivarem a iniciativa privada para armar navios e levar a cabo algumas expedições.

A primeira delas tem lugar no ano de 1444, é proposta por um tal Lançarote,“almoxarife de el-Rei naquela vila de Lagos”, e leva como segunda figura e capitão de um dos navios, Gil Eanes, “aquele que escrevemos que primeiramente passara o cabo Bojador” – como diz o cronista.

São seis caravelas que se dirigem à Ilha das Garças, a sul dos Baixos de Arguim, onde Nuno Tristão já tinha estado no ano anterior.

A expedição tinha objectivos essencialmente comerciais, mas isso não era incompatível com a exploração de algumas das ilhas mais a sul, sobre as quais, aliás, já havia informações concretas de que era possível fazer grande número de cativos, como viria a acontecer.

Em Naar e Tider, com relativa facilidade, deram caça aos mouros que andavam desprevenidos em fainas de pesca, ou que viviam perto da costa. A zona não é fácil para a navegação com as caravelas, mas à custa dos batéis e com saídas bruscas obtiveram o maior número de escravos que alguma vez tinha sido feito por qualquer expedição portuguesa.

No dia 8 de Agosto de 1444 – um dia após a sua chegada – teve lugar no terreiro, defronte da porta da vila de Lagos, a macabra partilha duma mercadoria que se viria a tornar habitual.

Esta partilha tem como assistente o Infante D.Henrique e a crónica dos feitos da Guiné de Zurara, relata dum forma impressionante, eis uma passagem ;


Mas qual seria o coração, por duro que ser podesse, ti que não fosse pungido de piedoso sentimento, vendo assim aquela companha? Que uns tinham as caras baixas e os rostros lavados com lagrimas, olhando uns contra os outros; outros estavam gemendo mui dolorosamente, esguardando a altura dos ceus, firmando os olhos em eles, bradando altamente, como se pedissem acorro ao Padre da natureza; outros feriam seu rostro com suas palmas, lançando-se tendidos no meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto, segundo o costume de sua terra, nas quaes, posto que as palavras da linguagem dos nossos não podesse ser entendida, bem correspondia ao grau de sua tristeza.

  • Outras incursões pela costa de África neste ano
Gonçalo Sintra descrito por Zurara como tendo sido «moço de estribeyra» e mais tarde escudeiro do Infante D. Henrique, e que, ao seu serviço, juntamente com Dinis Dias, terá descoberto o Cabo Branco e a ilha de Arguim, vindo a falecer, juntamente com a tripulação em 1444 na ilha de Naar ou de Tíder.

Diogo Afonso, criado do Infante D.Henrique, juntamente com Antão Gonçalves e Gomes Pires, terá chegado ao Rio do Ouro, com 3 caravelas.

É ainda em 1444 que um caravela comandada por Nuno Tristão realiza um progresso significativo, a chegada à Terra dos Negros ou Guiné, que garante aos navegantes que haviam chegado a um novo espaço verde e de aparência fértil em contraste com a terra desértica e arenosa que até aí haviam tocado.

Dinis Dias volta outra vez ainda este ano, comandando uma caravela armada em Lagos, avançando até à ilha da Palma no actual Senegal.

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